terça-feira, 4 de outubro de 2011

O nosso Cérebro também tem ‘MELHOR IDADE"


Estudos indicam que, depois dos 40, lapsos de memória são compensados com maior habilidade em tarefas específicas

Quanto mais velho, melhor. A afirmação não se refere a algum tipo de bebida que, eventualmente, ganhe em qualidade conforme o passar dos anos em tonéis. Trata-se do cérebro humano. Diferentemente do que se imagina, a mente ganha maior competência para resolver problemas complexos a partir dos 40 anos, indicam estudos divulgados recentemente nos Estados Unidos.

Apesar de lapsos de memória ocorrerem mais frequentemente, maior distração ou pequenos esquecimentos como onde deixamos as chaves ou o nome de alguém conhecido, o cérebro se torna mais talentoso conforme envelhecemos.

Além da pesquisa estrangeira, exemplos bem próximos comprovam que, de fato, nosso cérebro fica mais treinado após os 40. “Antigamente, quando a pessoa atingia a fase próxima aos 50 anos, a tendência era de se fechar. Atualmente, e isso ocorre com mais frequência a partir dos anos 1990, as pessoas de meia e terceira idade buscam envolver-se em atividades, ainda mais as prazerosas”, observa a psicóloga Gislaine Audi Fantini, coordenadora do projeto Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) pela Universidade Sagrado Coração (USC).

Segundo ela, a tendência pela busca por atividades lúdicas e de entretenimento mostra que a população de meia e terceira idade, além de ter aumentado, quer qualidade de vida. Isso, consequentemente, acredita a psicóloga, serve de incentivo para o envolvimento tanto social quanto cultural com “treinamento” da mente, assim mais habilidosa.

Quem atesta o argumento é o professor aposentado Vitório Derganuti Assi. Aos 67 anos, ele coleciona quatro diplomas, três deles universitários. Ele apenas aguarda a retomada das aulas de espanhol na UATI para, em breve, adicionar mais um canudo à coleção.

Porém, ensina Vitório, não basta esperar o tempo passar. Para que nossa cabeça fique afiada, é preciso treinamento. “Só fica bem quem procura a habilidade. Quem não treina, fica na saudade”, decreta. “O cérebro gosta de ser provocado, a mente precisa de atividades”, salienta.

Colega de Vitório na UATI, a também professora aposentada Marisa Maria Pereira de Paiva, de 65 anos, encara o desafio de estudar alemão. “O idioma é mais difícil, até para quem tem noção de inglês”, diferencia.

Além de se considerar mais habilidosa nos estudos e em outras atividades Marisa diz que, além do “efeito tempo”, a atual condição de vida, de boa parte dos idosos, permite que eles busquem o aperfeiçoamento pessoal, diferentemente de outros tempos, em que as atenções eram voltadas exclusivamente ao bem estar da família.

“Sem a preocupação exclusiva com os filhos ou a casa é mais fácil você se organizar e buscar novos objetivos, ao contrário de antes, quando a preocupação era o trabalho e o sustento da casa”, compara Marisa, que brinca com o suposto esquecimento comum aos mais experientes. “Para falar a verdade, a memória falhava mais antes”, descontrai.

“Sou mais objetiva, lembro agora das coisas melhor do que antes”, diferencia. “Isso também é fruto da habilidade, depois que a gente treina mais”, atribui. Aposentada há 14 anos, ela se diz pronta para o desafio de seguir com as aulas do novo idioma, considerado de difícil aprendizado. “Escolhi justamente porque o alemão era ‘grego’ para mim”, brinca. “Vou tentar descobrir como funciona a gramática”, vislumbra.

Pesquisas

Os novos estudos sobre a Melhor Idade do Cérebro foram reunidos num livro, publicado pela jornalista norte-americana Bárbara Strauch, editora de ciência do jornal “The New York Times”.
Conforme a obra, intitulada “O Melhor Cérebro da Sua Vida”, as pequenas perdas, como a dificuldade maior em aprender novas tecnologias, são compensadas com habilidade em ações pontuais.


Uma pesquisa da também norte-americana Universidade de Stanford, feita com 118 pilotos de avião com idades entre 40 e 69 , mostrou que os mais velhos foram mais eficientes para evitar colisões em testes realizados em simuladores de voos. Ainda de acordo com as pesquisas reunidas pela jornalista, estudos de memorização de palavras indicaram que os jovens adultos usam apenas a parte interna do lobo frontal para o resgate de expressões. Os mais velhos utilizam ambos na busca por palavras.

Para a coordenadora do projeto mantido em Bauru, onde alunos com mais de 50 anos podem cursar, na condição de ouvintes, diversas disciplinas de graduação bem como atividades específicas (como informática, história, teatro ou línguas), há uma nova visão sobre a chamada melhor idade, mais habilidosa e perspicaz. “Envelhecer está na moda”, conceitua Gislaine.

Sem crise

A adesão a atividades, sejam culturais ou de mero entretenimento, também propicia ganhos sociais aos participantes, enfatiza a psicóloga. Esse é outro quesito que vai ao encontro das pesquisas divulgadas recentemente no Exterior. Ou seja, a visão de declínio ou depressão conforme o passar dos anos, cada vez mais é deixada para trás, fazendo da chamada “crise da meia idade”, um mito. Para quem se mantém saudável, obviamente, a meia idade (hoje compreendida dos 40 aos 68 anos, pode ser um dos períodos mais ricos e proveitosos da vida, defende a autora. Além disso, acentua a jornalista norte-americana, caso a memória ainda teime em falhar, outra ferramenta, também cada vez mais acessada pelas faixas de meia e terceira idade, pode ser requisitada sempre.
“Temos sorte: se não conseguirmos lembrar de alguma coisa, é só dar um Google”, descontrai.
Por Luiz Beltramin